Ontem, olhando pela janela aqui de casa, eu vi um tucano. Ele era lindo, era uma expressão potente da natureza. E me fez pensar em um monte de coisas sobre ecologia e sustentabilidade, sobre essa dicotomia boba e falsa entre humanos e natureza, como se fosse possível separar.
Mas eu entendo que talvez não seja justo eu simplesmente sair falando das minhas reflexões ao ver o tucano na minha janela, porque eu sei que essa é uma realidade muito singular, baseada numa posição de privilégio que é morar onde eu moro. Eu tenho alguma noção disso e sou muito grata por poder ter esse contato com uma natureza tão linda na minha rotina.
Voltando ao tucano, ao olhar pra ele na copa da árvore e eu passando calor dentro do apartamento, fica óbvio que aquele ambiente, na verdade, é muito mais acolhedor pra um organismo vivo como eu e o tucano do que o meu apartamento. Lá, a temperatura se regula, a umidade tende a se equilibrar e manter água disponível no ambiente, e a mesma disponibilidade também vale para os alimentos. O que um ser vivo precisa pra viver tá tudo lá, nos ecossistemas “originais” digamos assim – nada mais do que ecossistemas ricos em biodiversidade, no fim das contas.
E ainda por cima aquele ambiente é muito mais resiliente em relação a eventos climáticos extremos (que são eventos naturais e inevitáveis em alguma medida, mas que a ação humana transformou em eventos cada vez mais severos e frequentes). Chuva, vento, raio, fogo, tudo isso tem muita força e provoca impacto em qualquer espaço, mas os ecossistemas com mais vida reagem melhor aos impactos, sofrem menos e se recuperam mais facilmente.
Mas Mima, então quer dizer que tu acha que a gente tem que ir pra floresta? É isso?
Não, não é nada disso. O tucano só me lembrou que os ecossistemas funcionam, eles realmente funcionam. E as nossas casas, os nossos bairros, as nossas cidades têm tantos problemas pra funcionar… A reflexão que eu fiz é que a gente precisa ter mais humildade ao olhar para a paisagem, em vez de achar que a as coisas que a gente inventou são as melhores coisas do mundo.
Mais importante ainda, o tucano me lembrou que o meu apartamento, o meu prédio, o meu bairro, tudo isso também é natureza, só é uma natureza que a gente modificou de um jeito bem específico – bom pra algumas coisas, péssimo pra muitas outras… Como diz a Emma Marris, num TED que eu amo e tô sempre retomando, “a natureza está em todos os lugares – a gente só precisa aprender a enxergar”.
Talvez não seja um tucano, talvez seja uma árvore frondosa, pode ser um curso d’água, pode ser um pé de verdura que a gente vê crescer, pra quem for mais poético pode até ser aquela flor que nasceu na rua, que desbotada rompeu o asfalto.
A natureza está em todos os lugares. A gente precisa aprender a enxergar. E precisa ter humildade para aprender com tudo o que ela tem a nos ensinar.